Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Incêndios

(Quase) todos os anos é a mesma coisa. Digo quase porque há alguns anos mais propensos a incêndios que outros. E este foi um deles: muita chuva no inverno, muito calor no verão. Muita biomassa para arder. E cá está a arder.
Quando percebemos um pouco dos assuntos “quentes” da comunicação social é arrepiante a falta de conhecimento, esclarecimento ,oportunismo e sensacionalismo das notícias que são transmitidas. O que faz com que fique a desconfortável sensação dos disparates que também devemos engolir todos os dias sobre áreas que não dominamos.
Não percebo o fetiche da grande maioria das pessoas com os incendiários. Ainda ontem na rádio uma presidente da Câmara tinha a certeza de “ser fogo posto”. Eu punha as minhas mãos no fogo sobre se a senhora tinha as habilitações necessárias para saber identificar um fogo posto. Esta obsessão do fogo posto também é partilhada pelos meios de comunicação. Suponho que seja porque o cheiro a crime atrai mais audiência. Mas é uma pena que não se ouçam os especialistas na matéria.
80% dos fogos são de origem acidental. Esta percentagem vem de anos de estudos dos profissionais habilitados na área. Acidental, mas na grande maioria consequência de desleixo e incúria. Uma beata atirada de um carro em movimento; vidros deixados em matas que provocam as ignições. Era importante que este tipo de informação fosse transmitida ao grande público, já que grande quantidade de pessoas poderá ter comportamentos que podem dar início a incêndios sem mesmo terem consciência disso. Claro, há outros factores, e a chave estará na gestão florestal, que tem múltiplos problemas associados. É bom também ter em mente que os incêndios sempre existiram, e existirão, em Portugal, tal como existem em todas as regiões mediterrânicas do mundo, pois é nestas zonas um fenómeno natural. A acção será sempre no sentido de diminuir o nº e extensão de incêndios, alertar mais rápido, combater mais depressa, de forma mais segura.
Haver incendiários é lamentável, mas provavelmente sempre os haverá. Têm que ser devidamente julgados (se calhar tratados, em muitos casos). Actos de incúria podem ser em parte evitados com uma correcta sensibilização – e responsabilização, claro, sempre que possível. Se os meios de comunicação se focassem mais nisso e menos na especulação sobre incendiários e em dar tempo de antena a quem ignora a matéria provavelmente conseguíamos ter menos incêndios e menos mortes.

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