Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

domingo, 14 de julho de 2013

Cinco anos

E hoje fechou-se o ciclo de aniversários deste ano dos filhotes! Desta vez foi a flaminga que festejou os seus cinco aninhos. Pela primeira vez vieram festejar com ela os amiguinhos da escola, bem como outros amigos e família que já vêm desde sempre. Foi um dia feliz para todos e foi um dia feliz para ela.
Está crescida, a minha flaminga, e mudou muito nos últimos anos. Quem a conheceu há uns anos atrás não deixa de notar isso: uma criança não muito dada a grandes socializações e muito obstinada em todos os seus actos, tendo sempre opinião e determinação para tudo, no último ano tornou-se surpreendentemente dócil, mais afectiva, mais social. Mantém o seu feitio e as suas opiniões, mas agora bastas vezes opta por guardá-las para si ou demonstrá-las de forma mais suave. O que é para mim fonte de grande contentamento (e alívio). O que me conduz ao terceiro grande ensinamento que os meus filhos, no seu conjunto, me trouxeram. É que as crianças não são todas iguais. E não foi por ter um filho mais velho que eu já tinha a receita que havia de funcionar com ela, a segunda da prole.
O futebolista foi um bebé fácil de lidar, sendo de descontar obviamente as dificuldades que todas as mães de primeira viagem enfrentam. E sendo o primeiro, era o modelo que eu tinha.
A flaminga foi uma bebé, e depois uma criança pequena, bastante mais difícil de lidar. Nunca gostou muito das alterações à sua rotina ou de caras que não conhecia. E desde que consegue expressar-se sempre teve ideias muito claras sobre o que queria fazer, comer ou vestir. Eu não fazia ideia que uma criança tão pequena já pudesse ter opiniões tão vincadas. Nem que podia ser tão obstinada para obter o que queria. Para pessoas diferentes de facto nem sempre a mesma abordagem funciona. E o que o meu sentido negocial, paciência e arte de tentar fazer alguém mudar de ideias se apurou, desde que ela chegou.
Hoje, feliz, sinto que o meu esforço foi recompensado. A flaminga não deixou de ter as suas ideias nem de saber (sempre) de onde vem e para onde vai. Mas já consegue encaixar (a bem) que nem sempre pode ser à sua maneira. Eu sei, filhota, que quando te contrario e te faço fazer como eu quero, que tu no fundo não estás convencida. Mas fazes, porque agora já consegues ter a tolerância e a capacidade de perceber muitas coisas que antes não percebias. Também sei que não te vou conseguir distrair dos teus intentos ou de mudar a forma que tens de olhar para muita coisa, mesmo cedendo tu àquilo que nós te pedimos ou exigimos. Mas sossega-me que entendas a discordância e que tenhas aprendido a encaixá-la. Espero que continues sempre, assim, determinada. Mesmo que não concordemos em muita coisa, para mim, isso é crescer na direcção certa.

1 comentário:

  1. Conheço mal a Flaminga, mas ao ler a descrição lembrei-me da minha pequena guerreira, com quem ela partilha os dias. Também a minha primogénita foi um bebé fácil e a guerreira veio revolucionar tudo. Mas com o tempo as coisas foram-se apaziguando, embora ela ainda seja aquele piolho que se vê. Adorei que elas estivessem passado uma tarde tão boa. Há muito que não as via tão descontraídas. Obrigada, mais uma vez!

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