Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Já vais tarde, Relvas



Não me é fácil dominar todo o fel que para aqui vai sobre este tema. Foi muito bom ele ter saído, sim. Acho que foi bom para todos nós. Mas infelizmente não se deve ver isso como um sinal que o decoro regressa, blá, blá… Não é preciso ser-se um mago da política para se saber que Relvas há por aí muitos, e que a seguir a este Relvas há-de vir outro. Um pouquinho melhor, esperemos. Ou menos mau.
Também não subscrevo esta do “agora é que é, depois deste saem os outros, depois vêm eleições e vamos viver felizes para sempre”. Sendo um pensamento tentador, penso que qualquer um sabe que não é verdade. Lá que o Governo pode cair, pode. Até em consequência da aguardada decisão do Tribunal Constitucional. Mas apenas do Relvas ainda tem largueza de costas para se manter. Para além de que, seja qual for a decisão e opções tomadas pelo país, o caminho que espera os portugueses vai ser difícil. É a minha opinião, pode haver outras… (como diria um amigo meu).
Não consigo contudo deixar de me espantar com o personagem Relvas. Segundo a jornalista, “agora Miguel Relvas terá tempo para se dedicar ao que gosta de fazer, ler, ir ao cinema, viajar…” Nem na hora da despedida (inglória) lhe dá um rebate de consciência e se lembra que, para muitos, muitos portugueses, esse tipo de actividades está completamente vedado por estrições financeiras, mesmo considerando aqueles que não estão desempregados, e que trabalham longas e longas horas para manter as suas casas e as refeições na mesa. Ou então foi uma interpretação livre da jornalista, mas que provavelmente não andará longe da verdade…
E sabemos todos que o amigo Relvas daqui, irá para melhor. Para uma das várias suspeitas empresas dos seus amigalhaços, finalmente a ganhar um melhor salário e, sobretudo, com menos preocupações.
Por isso, a saída dele foi boa, sim. Mas, bem vistas as coisas, não dá para mais que um esgar de sorriso (pronto, e já agora podemos ouvir com prazer a música da Comercial, 

assim sempre dá para um sorriso mais largo).

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