Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 22 de março de 2013

A neurótica Europa

Em casa dos meus pais a minha mãe tinha um recorte de jornal com um curioso conjunto de frases colado no frigorífico com um íman; estas frases eram todas críticas à novas gerações (pelas gerações mais velhas). O engraçado dessas frases é que, dizendo fundamentalmente o mesmo, a sua amplitude cronológica variava em mais de um milénio. Todas de autores europeus, é claro.
Alguém já escreveu que desde que se conhece que a Europa está em crise. Talvez seja este estado neurótico permanente que tanto atrai o realizador Woody Allen à Europa e vice-versa. Pelo menos um exemplo tem, pois os filmes dele a mim atraem-me imenso!
Mas voltando a assuntos menos simpáticos, esta crise europeia está-se a tornar muito perigosa. E está-se a tornar perigosa porque este terreno de recessão económica, desemprego, desespero e escalada de pobreza é terreno fértil para oportunistas e parasitas que historicamente lucram com conflitos. Dos grandes e dos pequenos. A Europa menos rica (falar em Europa pobre ainda é uma ofensa para muitos e muitos países deste mundo tão desigual) está a acumular rancor e raiva em relação à Europa mais rica. Os fantasmas antigos agitam-se e as feridas não completamente cicatrizadas começam a arder. E é tão tentador ter bodes expiatórios... que por vezes são nações.
Nós bem sabemos que a Europa mais rica (e boa parte da menos rica!) olha para Portugal e para os países do sul em geral com um misto de paternalismo e impaciência face à sua ineficiência... no mínimo. Mas a culpa de toda esta situação não é do eleitor alemão. Este é mais um peão deste Monopólio perigoso, deste Parasita que quer viver alimentando-se ao máximo do seu hospedeiro, mas que para viver não o pode matar. Neste clima é fácil para os ódios grassar. A minha neurose (como boa europeia que sou) não é tão forte que me faça sugerir que a 3ª Guerra Mundial vem aí. Mas há uma certa hipótese de que este caminho que se começou a trilhar possa ir lá dar.

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