Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Dos protestos

Desde o início achei que as muito discutidas formas de protesto que têm inundado os meios de comunicação foram algo de criativo, bem-humorado e até fresco (na medida da sua originalidade). Refiro-me claro está aos cantares da "Grândola" e aos pedidos de emissão de facturas em nome do nosso primeiro-ministro e alguns dos seus mais destacados membros do Governo. Analisando com atenção, lamento que a questão das facturas tenha sido tratada com tanta burrice pelo nosso Governo - evidentemente que é importante a emissão de facturas e evitar a fuga ao fisco; mas a sua tão inábil divulgação provocou exactamente o efeito contrário ao que se pretendia.
A população portuguesa, ao tomar as atitudes que inicialmente descrevi, está obviamente a protestar, não só pelas duríssimas medidas de que tem sido alvo mas também da falta de exemplo a que assiste da sua comunidade governante e mesmo de algumas atitudes provocatórias por parte deste mesmo Governo.
Fiquei com uma pequena vaidade (perdoem-me esta fraqueza) da maior parte dos programas de debate terem uma opinião completamente coincidente à minha, e até uma fonte de informação mais externa, como o Finantial Times. Até da parte do Governo se dever considerar muito feliz por esta tipologia de protesto. Estivesse ele na Grécia ou em Espanha e já não seria tão simpático. Enfim, é só ver as notícias.
Confundir estes protestos com limitação da liberdade de expressão é tão, tão ridículo, que daí apenas se espreme que quem apoiou essa tese ficou muito mal na fotografia.
Descansem Passos e Relvas: não tenciono pedir facturas em vosso nome; prefiro guardá-las para mim, embora já tenha percebido, aliás como todo o povo português, que em matéria de vantagem directa para mim ela é basicamente nula; mas entendo que terceiros devem pagar seus impostos por isso (sempre que considerar razoável) tenciono pedi-las; como aliás já fazia.
Agora quanto aos cantares, já estou a afinar a garganta. Ao contrário de ti, Relvas, há muito que sei a música de cor.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Diz-me com o que sonhas...

Lá dizia o sr. Freud que tínhamos cá um censor, o super-ego, que filtrava e encriptava as mensagens dos sonhos, escapes das nossas mais profundas preocupações, anseios e traumas.
Eu acho que o meu super-ego não funciona bem. Ou então as minhas preocupações, anseios e traumas são tão cinzentos e pouco estimulantes que o super-ego não se incomoda a mascará-los. Pois de facto sonho exactamente com o que me preocupa, sem filtros nem encriptações. É o verdadeiro pesadelo de um psicanalista.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Vestida de mãe

-Hoje fui vestida de mãe-diz a flaminga.
-Vestida de mãe?
-Sim, com calças de mãe!

(Tradução = calças de ganga; cá em casa são calças de mãe - que a filha só a muito custo larga os seus vestidos e as suas saias...)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Imaginação, precisa-se!



A propósito de uma notícia do Público de hoje, de um estudo disponível no Portal de Opinião Pública (POP), foi veiculado que os portugueses se preocupam tanto como os suecos com que os filhos tenham boas maneiras mas, por exemplo, são dos países que menos estimulam a imaginação das crianças. Efectivamente, esta última conclusão não me espanta mesmo nada.
Ainda ontem ao analisar com o futebolista a sua folha de avaliação intercalar do 2ª ano, questionei-o sobre as avaliações menos conseguidas. Porquê apenas suficiente em Expressão artística?
-Ah, é que eu não pinto bem. Não pinto sempre para o mesmo lado.
-Então mas em expressão artística tu só pintas?
-Sim, quase sempre. E também deixo espaços em branco.
Eu sei que o meu filho não deve ter nascido para as artes. E que deve ter muito pouca paciência para as coisas saírem perfeitinhas. Sim, e que deixar espaços em branco não augura uma boa pintura. Mas colorir ser a actividade principal?
-Então e porque não tiveste Muito Bom a Estudo do Meio?
-Não sei, Matemática e Língua Portuguesa é mais giro. Agora Estudo do Meio também vai ser giro, estamos a dar as plantas e depois vamos dar os animais.
-Sim, também me parece que é giro! Podes aproveitar para tentar chegar ao Muito Bom! Mas o que estavas a dar antes?
-Ah, demos as escolas, hospitais, as colectividades…
As colectividades??!! É preciso dizer mais? Então e que tal dar antes planetas, descobertas espaciais, ecologia, ciência em geral, pronto, entre outras questões cívicas que se justificam e até já falaram.
Mas colectividades??? (Revolve-se o meu pensamento tentando que não me saísse a opinião disparada…)

Uma escola cheia de Sol



Gosto muito da escola da flaminga e do ursinho, e que também já foi do futebolista. Tenho imenso respeito por todos os profissionais e admiração pelas iniciativas, inclusive da visível intenção de se superarem sempre, com actividades mais imaginativas e mais estimulantes para as crianças. Eles gostam muito de lá andar, e quanto mais crescidinhos ficam, mais gostam. As instalações são também muito boas. Mas nos dias que correm, tem ainda outro atractivo: a distribuição do nevoeiro não é homogénea e, maravilha das maravilhas, lá está sempre sol. Sol na nossa cara e na nossa alma também. Conservem sempre a vossa luz e calor.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Ânsias de viagens...

Quem leu a saga que se iniciou no livro "Chocolate" perceberá muito bem...
Eu percebi logo que tinha alguma coisa em comum com a personagem principal, Vianne Rocher... (e não só o gosto por chocolate). É aquela inquietude que se levanta, mais forte que tudo o resto e a leva a partir, fazer malas e não olhar para trás...
Eu tenho cá esse gene de inquietude, que me vai fazendo progressivamente sentir enjaulada num mesmo sítio, com ânsias de novas paisagens, trajectos, estradas, faces...
Não sendo muito prático ser uma nómada nos tempos que correm, e estando nós (pais e mães) inevitavelmente presos a uma rotina familiar, tenho que contentar estes ímpetos com viagens (e não me importo nada com isso).
E agora estou assim, farta destas chuvas, destas paredes, destas ruas. Preciso de viajar! Romper com a rotina, respirar fundo, mergulhar e vir novamente à tona. Para recomeçar tudo de novo.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Momentos IV - Corso

-Então, ursinho, que mascarados é que viste hoje?
-A princesa, a princesa-senhor...

(...)

-E do que é que gostaste mais do Carnaval? [corso]
-Do tractor.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

É Carnaval, ninguém leva a mal! Mas eu levo!

Mas eu levo muito a mal, muito muito a mal por nos terem roubado este feriado. Este feriado foi-nos retirado apenas para inglês ver. Ah, e tal, não é feriado. Pois não, era tolerância de ponto. Um esclarecimento: eu nunca tive tolerâncias de ponto, nem as tradicionais de 24 de Dezembro. Se quero dias de férias, tenho que os tirar. E é isso que farei amanhã. Assim como assim, metade do país vai estar parado; muitos municípios com tolerância de ponto e as escolas fechadas, na prática é um lay-off de um dia.
Mas era mais que tempo de reconhecer que o Carnaval é um dia festivo com muito mais significado que a esmagadora maioria dos feriados. É efectivamente festejado por esse país fora, e mais, é um importante evento económico para muito municípios. Assim, em vez de se armarem em meninos bem comportados (mas pouco inteligentes) e exigir que o pessoal vá trabalhar, não seria melhor fazer umas contas e ver que muito provavelmente, assim se fica a perder?
Por isso, aqui deixo um repto: Carnaval a feriado!

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Tudo vale a pena...

Esta intensa e exigente tarefa de educar é uma corrida de fundo. Um trabalho de persistência. É maravilhoso testemunhar o carinho que os filhotes têm por nós mas educar é muito mais que isso. Não, não é só gostar uns dos outros. É muitas vezes tomar decisões difíceis, impopulares, meio às cegas, na esperança de que, apesar dos contras, sejam produtivas.
Foi o caso do futebolista e da natação. Não, tal como o Han Solo diz, não creio que vá ser um nadador de alta competição. Mas há-de se desenrascar dentro de água e aprender a nadar razoavelmente. Da resistência e rejeição iniciais dá-me enorme orgulho (nele e em mim, sim) ver os seus lentos mas evidentes progressos a cada semana e vê-lo finalmente a gostar de pequenas coisas como o entrar na água tépida da piscina e o duche quente e retemperador do final. Bem como do seu ar de orgulho cada vez que alcança mais uma pequena vitória.
Sim, de vez em quando recebemos estas pistas surdas e simultaneamente tão esclarecedoras: Fizeste bem.  

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Um dó li tá...

Hoje tirei cerca de 30 piolhos da cabeça da flaminga. Não sei porquê, é a única atreita a estas bichezas! Os manos nunca tiveram e oportunidades (ocorrências nas salas da escola noutras cabeças) não faltaram!
Antes disso, hoje tive também a ingrata tarefa de tentar explicar a alguém que não quis ouvir relevantes e informadas opções de âmbito profissional. Há pessoas que conseguem ser completamente desesperantes - uma coisa é uma discordância, natural e, em certos casos, até estimulante se devidamente fundamentada; outra completamente diferente é teimosia desinformada e irredutível, à prova de qualquer lógica e desenquadrada de objectivo e estratégia. Apre!
Entre uma e outra situação, venham os piolhos! (Desculpa, flaminga!)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Pronto, não resisto

O ursinho está viciado na mãe, tanto que quando vai para cama deve ficar com a pica toda para ter a certeza que não me vou embora. Depois saio de mansinho e vai lá o Han Solo, e ele já o ursinho não se importa que às tantas saia. E enfim a casa sossega. Ora há uns dias o Han Solo não estava cá e eu com a tarefa de deitar o ursinho e a flaminga. Meia hora e o ursinho não sossega. Uma hora e o ursinho não sossega. Quase hora e meia e o ursinho não sossega. Paciência por um fio: -Agora é para dormir! E chora, e grita. Mas a flaminga tem que se deitar. A flaminga QUER deitar-se. E assim tem que ser. Ao som do choro. Toca a campainha. (??!!) Vou à porta. Vizinha à porta. Ora bolas, barulho a mais. Mas não. Extrema preocupação com a criança. O que se passa? Posso ajudar? Que aflição! Precisa de colo! Eu sei, sou mãe e também tenho filhos (tudo isto é diálogo da dita).
Tão estupefacta fiquei que mal me ocorreu algo de minimamente espirituoso para dizer. O que se passa é que tenho que deitar duas crianças. A tentar acalmá-lo estou eu há hora e meia. Há gente que não se enxerga. É nestas alturas que tenho pena de não ter uma moradia.

Já percebi

Na reunião da escola do futebolista ficámos a saber que no ano dele iam haver exames. Que ainda não se sabia se contavam para a nota.
Bem, na minha opinião muito pessoal isto de exames para crianças tão novas, e para mais sem marcar o encerramento de nenhum ciclo (?) é uma grandessíssima inutilidade. Ah, e tal, vão-se habituando... Qual quê! Obsessões dos méritos é o que é. Agora à conta dos ditos exames aí vêm mais uns livrinhos para o pessoal subsidiar. Acho que já percebi.
Felizmente que o futebolista não sofre com stress de provas! Para ele vai ser basicamente igual ao litro. Já para todos os professores não vai - com a obrigatoriedade de em inícios de Maio terem toda a matéria dada. 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Doces insignificantes doenças de infância

A flaminga é uma força da natureza. Muito muito raramente adoece (já nem me lembrava da última vez), apesar do seu semblante mais franzino que o dos irmãos e do seu apetite menos voraz.
Mas hoje calhou-lhe a ela. Uma febre que cede ao ben-u-ron e que dá aqueles olhinhos pesados, avermelhados, mas doces, que não enganam. As doenças (insignificantes) da infância são a mais perfeita desculpa para um dia pleno de mimos e atenções, aconchegos, mantinhas, desenhos animados e comidas favoritas. Se for suficientemente leve a doença, acho que toda a criança gosta, de vez em quando, de um dia assim. Estar doente em adulto já não tem graça nenhuma. Apesar dos filhotes me encherem também de mimos, à sua maneira, as responsabilidades e afazeres estão lá, praticamente todos, em cima do mau-estar, que em estado adulto é muito mais pesado. Quando me calha a mim (e não é assim tão raro, a resistência da flaminga não veio, decididamente, da mãe), deve ser das ocasiões em que mais saudades tenho da infância.