Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Preparativos

Alturas houve em que gostava de fazer malas. Escolher criteriosamente aquilo que seria mais útil e que ocuparia menos espaço. Arrumar as coisas de forma geométrica. Ter à mão os essenciais (por exemplo, de avião os essenciais são uma escova e pasta de dentes e roupa interior). Actualmente já não gosto tanto de fazer malas porque são a multiplicar, para os que vão, ou para os que vão e para os que ficam. Torna-se uma tarefa muito cansativa e complexa, sem contar com os dias anteriores a lavar roupa que nem uma louca. Faz lembrar a dívida do Estado em que corremos, corremos, corremos para a pagar e ela sempre a aumentar. É como o meu cesto de roupa suja. Penso que é uma boa analogia.
Às vezes, só a lembrança dos preparativos desencoraja a viagem. Parece que por cada dia de preparativos é necessário um de férias para voltar ao normal.
Desfazer malas é um pesadelo (sempre foi), mas desde que há malas a multiplicar, sabemos que estão cá bracinhos muito ansiosos por nos abraçar com força. E que algum vazio dos dias anteriores vai finalmente ser preenchida. É verdade que nunca mais somos tão livres para partir, mas sabe muito melhor regressar.

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